Tenho ouvido muito a falar sobre o amor. Não o falar de palavras, mas ao longo de algumas semanas vi grandes produções que no fundo falavam simplesmente sobre o amor. E o que ele é? O que diziam tais produções que acabam sempre povoando a mente das grandes massas sobre o pretesto do entretenimento? Diziam, sobre diferentes formas que o amor é morte, dor e perdição.
Sobre a alcunha de um super-herói invulnerável o amor o fazia morrer, o deixava penetrável a ação das balas dos bandidos, tão maus e que não amavam(?). De outro lado um grande seguidor da lei e da justiça se torna um assassino após saber da morte de sua amada. Mas, sob um olhar mais atento, não se pode matar e praticar todos os outros verbos relacionados a morte se não ouver vida, e, simplesmente por uma questão de semântica, o amor é a vida: vida que provoca loucuras, lacunas e vida que provoca a morte.
Sobre este aspecto pouco comum, o problema de um amor mal vivido, mal construído e mal acabado não necessariamente está no outro, naquela parte afastada que não vivemos sem, mas em nós mesmos, que temos o vício de viver (leia-se amar) somente pelo outro, ou pelos olhos do outro. E neles procuramos beleza, inteligência, as vezes dinheiro, as vezes um bom sexo, as vezes um sorriso ou uma palavra amiga que não encontramos quando estamos sozinhos no mundo, sem ninguém a nossa volta que diga certos conjuntos de palavras que não temos coragem de dizer à nossa própria imagem refletida no espelho do banheiro.
Será que por andarmos vinte e quatro horas por dia com nós mesmos e conhecermos todos os nossos defeitos, todas as nossas manias e todas as coisas nojentas que fazemos quando ninguem está olhando é que não nos amamos? Será que ficariamos algum dia com nós mesmos, apesar de, em uma imensa contradição, procurarmos no outro um pouco de nós? Mas a questão é, por que nós não nos amamos? Por que é tão grande a falta de amor próprio em nossa cultura, sim, nossa cultura que preconiza que somente seremos plenos com outra pessoa?
Não, e não estou dizendo que não gosto de ter uma pessoa para chamar de noite porque estou com algum problema que só ela entenderá ou que não gosto de uma pessoa que me de aquela dose de carinho e de coragem matinal. Estou sim dizendo que esta pessoa somente será realmente importante no dia em que a gente conseguir, com grande dose de sinceridade, falar, olhando em nossos próprios olhos, "eu te amo" e, neste instante, viver, amar e definitivamente ser. Ser o que? Não sei... talvez simplismente, nós.