Você tinha olhos decididos, passou por mim e não me viu. Me importar com isso? Não naquele momento. Aquele era teu. O dia nasceu lindo e azul, e entre o rio poluído de nossa cidade e o horizonte, laranja. Entre tantos rostos, uns sonolentos, uns que não sabiam o que estavam fazendo lá, outros austeros, outros autoritários, de novo, azul. Te reconheci ao longe, parecia tão pequena e as vezes eu até te perdia na multidão. Esperei. Me fiz de distraído quando sabia que você me veria, e verde ou mel, me olhou com alguma surpresa. Fiquei imaginando o que estava passando na sua cabeça, talvez você tenha se perguntado sobre o porquê daquela pessoa que você conheceu havia tão pouco tempo estar ali. Ao certo, aquela pessoa também não sabia, mas o dia clareava mais. Rosa. Te segui a cada passo com o olhar e teu olhar tinha determinação, teu olhar tinha a confiança de quem respira fundo para conseguir seguir mais rápido. Teu olhar tinha sonhos. E, logo depois, teus pulmões mal tinham ar e o 23, verde, teimava em fugir de você. "Está bem?" "Estou!". E o dia clareou mais. Um beijo e o pensamento que ficou por lá.
E o que mais? Enquanto você sonha, eu te observo, enquanto te desvendo, você me surpreende. Até quando? Bem da verdade sou um alguém que sonha ter sonhos. Ensina-me a sonhar?